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quinta-feira, 29 de julho de 2010

The Spirit Level; Richard Wilkinson & Kate Picket

Obra lançada recentemente e bastante comentada nos círculos acadêmicos, já gerou inclusive uma segunda obra contestando os dados utilizados para a construção de suas teorias. Enfim, o livro ensina sobre a desigualdade social e como ela afeta a vida das nações mostrando que sociedades mais igualitárias apresentam menos problemas, de um modo geral.

A pesquisa procura distinguir os países estudados entre os mais ou menos desiguais e não entre ricos e pobres. Entretanto, dada a escassez de dados confiáveis disponíveis sobre países em desenvolvimento, como os africanos, latino americanos e grande parte dos asiáticos, a pesquisa cobre basicamente os países ricos, excluindo até mesmo os BRIC.

Ao longo dos vários gráficos apresentados, podemos perceber que os EUA constituem um dos países mais desiguais do mundo, enquanto a Suécia desponta como um dos mais igualitários.

O livro mostra uma série de problemas sociais que costumam aparecer com mais intensidade nos países que apresentam um maior índice de desigualdade, afetando a todas as camadas da população daquela nação. Existem os problemas que são mais óbvios como o aumento da criminalidade e população carcerária (e tratamento dos presos como forma de castigo ao invés de recuperação para a vida em comunidade), aumento da violência urbana e doméstica, e diminuição do nível educacional e quantidade de anos de estudo das classes mais baixas.

Mas o livro explica que a desigualdade afeta as pessoas de outras formas também, como diminuindo a confiança mútua, aumentando a busca por status e conseqüentemente o nível de estresse. Aumentam também a ocorrência de doenças mentais, depressão, abuso do álcool e uso de drogas. Aumenta a incidência de gravidez na adolescência e mães solteiras. E afeta também as pessoas na saúde física, crescendo o número de obesos (e todos os problemas que a obesidade causa) e diminuindo a expectativa de vida.

Os autores tentam buscar explicações para as causas de desigualdade social nas nações, mas encontram uma série de particularidades que dificilmente se repetem de um caso para outro. No entanto, eles propõe, algumas soluções para a desigualdade e conseqüente melhora das condições de vida das pessoas.

A primeira delas é a rejeição da idéia de incapacidade racial ou sexual. Todas as pessoas, independente de raça, cor, credo ou sexo são capazes de construir uma sociedade mais harmoniosa e igualitária. Para isso precisam desenvolver maiores laços de amizade e envolvimento social. A cooperação leva a uma melhor partilha dos bens, beneficiando a todos. O que as sociedades precisam é de uma extensa porém constante cadeia de pequenas ações voltadas para o bem social.

Uma atenção maior à infância e à criação das crianças, com mais participação na vida em família e transmissão de valores, cultura, afeto e dedicação. Isso ajudará no crescimento de indivíduos com um maior senso de participação social, maior autoconfiança e preparo emocional e psicológico na vida adulta.

E finalmente os autores sugerem que seja dado amplo incentivo à criação de companhias que pertençam a seus empregados, numa espécie de cooperativa, onde a divisão dos lucros como resultado do trabalho de todos seja melhor efetuado sem a necessidade de se pagar exorbitantes salários para CEO’s e membros da gerência. Além disso, destacam também a importância do papel desempenhado por sindicatos fortes na conquista de melhorias para sua categoria e para a igualdade profissional.

De um modo geral, achei a leitura um tanto extensa e tediosa algumas vezes, mas com um conteúdo sem dúvida bastante interessante e enriquecedor. O livro prova através de fatos o que o senso comum já revelava: a maioria dos problemas sociais se dá pela diferença exagerada que existe entre as rendas das pessoas dentro de uma sociedade.

O que achei melhor descobrir foi que há luz no fim do túnel, e que as soluções propostas são todas palpáveis; o que não é tão alcançável, entretanto, seria a mudança de mentalidade cultural necessária para pô-las todas em prática, infelizmente.

domingo, 25 de julho de 2010

ADMAP JULY/AUGUST 2010

Este mês a Admap vem com o tema “The future of research”, recheada de artigos e matérias discorrendo sobre o papel da pesquisa nos dias atuais e como as novas tecnologias disponíveis estão moldando esse papel e direcionando os objetivos de pesquisa por novos caminhos. Os editores da revista organizaram um painel com representantes de peso da indústria para discutirem sobre o tema e exporem novas visões sobre como a função da pesquisa será aprimorada em algo mais criativo e relevante aos clientes.

Entre várias conclusões, concordaram que a agência de pesquisa será cada vez mais cobrada para fornecer insights ao invés de somente informação bruta. E também que novas ferramentas de pesquisa, como a neurociência e a neurociência-social serão cada vez mais importantes e decisivas no processo de descoberta do consumidor. E novas formas de aferição do público, como Buzzmetrics e RealTime Data serão fundamentais para as mídias digitais.

Em um artigo chamado “Muslin Consumers” de Nazia Hussain, a autora escreve sobre a crescente importância do mercado muçulmano e como sua influência afetará o planejamento de marketing das empresas globais. Jovens muçulmanos com idade menor que 24 anos já representam 11% da população mundial, em um mercado que hoje já alcança a marca de 2.1 trilhões de dólares.

A autora destaca as diferenças culturais entre a geração desses jovens com a de seus pais, e explica, por exemplo, como a religião tem um diferente significado e valor para eles. É muito importante para as empresas que sigam a risca o código de leis Sharia, comportando-se de acordo com o conceito Hallal sobre pureza, honestidade e justiça – os jovens muçulmanos têm o potencial para serem os consumidores mais fiéis que existem; por outro lado, têm uma capacidade imensa de auto-organização e espírito de grupo para boicotarem em massa qualquer produto ou empresa que acreditem ser contra seus princípios.

Por fim, destaco também o artigo de Merry Baskin sobre “Effectiveness Measurement”, onde ela escreve sobre as diversas formas de se averiguar a eficácia de uma campanha, como ROI (vendas, retorno financeiro), imagem institucional (marca, reconhecimento, mudanças de atitude) e mudanças comportamentais (response rates, enquiries).

Interessante notar foi que, segundo a autora, a primeira coisa a ser feita para garantir uma medição de eficácia que funcione de fato, é estabelecer objetivos claros de comunicação e principalmente determinar de antemão o que será considerado como sucesso ao fim da campanha. Para isso, ela apresenta o modelo “by, by, by”, que foi justamente uma das 13 ferramentas para o planejamento estratégico que ela introduziu em seu curso “Strategic Thinking” pela APG no fim do mês passado.



WIRED 08.10

A edição deste mês traz na capa a chamada para a matéria intitulada “Entertainment Reimagined”, sobre a nova tendência de como se contar histórias e engajar a audiência chamada ‘Transmedia’. Funciona assim: a história começa a ser contada em uma mídia (como TV) e é complementada de diversas formas em outras mídias (como Internet, HQ ou até mesmo telefone), de forma que a complementação enriquece muito o acompanhamento e até mesmo facilita o entendimento de alguns detalhes da história na mídia principal. Um seriado que fez uso constante da transmedia foi o Heroes, onde a audiência podia acessar websites de empresas fictícias da série e obter explicações sobre acontecimentos que desenrolavam na tela. Também foram lançadas algumas graphic novels com histórias paralelas, mas ligadas à trama principal. E os fãs também puderam votar na elaboração de um personagem original que apareceu de fato na história. E muitas outras coisas mais.

Outro exemplo genial de transmedia storytelling é o filme ‘Head Trauma’. Na entrada do cinema, o público recebe uma HQ que sutilmente sugere a visita a um website. No começo do filme, é pedido que as pessoas enviem uma mensagem de texto para um número, e na saída do cinema todos os telefones públicos estarão tocando ao mesmo tempo. Após o filme, as pessoas são engajadas com a história através do website e também do celular. Incrível!

A revista também traz outras matérias sobre saúde pública e tecnologia, como o sistema de coleta de lixo através de túneis de vento subterrâneos que está sendo instalado em Montreal, mas que já existe na Suécia (pasmem) há mais de 30 anos. O mictório que funciona sem água e economiza milhões de dólares em recursos naturais (água e energia), e a luta de seus idealizadores contra a associação dos encanadores e a preconceitos enganosos; e também mostra a enormidade da tarefa que os peritos em Sarajevo, Bósnia, têm de identificar os restos mortais das mais de 8100 vítimas do massacre racial perpetrado há 15 anos atrás, tudo através de análise de coletas de DNA. Tal tarefa possibilitou a essa equipe desenvolver tamanha expertise na área que já receberam pedidos de auxílio de praticamente o mundo todo na identificação de corpos.

Por fim destaco a matéria ‘Sergei’s Search’, que fala sobre como Sergei Brin, co-fundador do Google, decidiu contribuir para a pesquisa sobre o mal de Parkinson. Vendia sua tia e sua mãe sofrerem com a doença, ele fez um exame de seu DNA e descobriu que possui 50% de chances de desenvolvê-la também – o normal seriam 11%. Assim, alterou seu estilo de vida, incluindo atividades físicas e cafeína, e destinou $50 milhões à pesquisa sobre Parkinson. Nesse último ponto, o que mais o surpreendeu foi o quão pouco a ciência é capaz de entender este mal, e quanto o tradicional método científico é demorado na obtenção de resultados.

Assim, pela sua experiência no desenvolvimento do Google e também através da empresa de genética-pessoal 23andMe, pertencente à sua esposa, ele propõe um novo método de pesquisa capaz de reduzir um experimento que requer 6 anos de pesquisa para apenas 8 meses, obtendo praticamente os mesmo resultados. É mais um passo do Google na sua auto-imposta missão de organizar a informação do mundo.

Yes we did; Rahaf Harfoush

A campanha eleitoral de Barack Obama que acabou levando-o à Casa Branca em 2008 foi revolucionária não só por eleger o primeiro presidente negro dos EUA, mas também pela maneira habilidosa com que utilizou os meios de comunicação digitais, chamados ‘new media’, que exerceram um papel fundamental na transformação do semi-desconhecido senador em presidente Obama.

Disposto a romper com a maneira tradicional de se fazer política, dês o início Obama percebeu o quanto os new media seriam importantes para inspirar e organizar a mobilização das massas em prol da campanha, formando um time de pessoas talentosas para trabalhar neste departamento. A maioria dessas pessoas eram jovens recém graduados e que nunca haviam se envolvido com política anteriormente, sendo este mais um ótimo exemplo de que o talento e a dedicação podem superar a experiência na corrida pelo sucesso.

O livro de Harfoush se concentra no trabalho realizado pelo departamento de new media da campanha, o qual a autora fez parte. Ela explica de maneira bastante detalhada e envolvente as atividades desenvolvidas com o objetivo de engajar o público, muitas delas completamente experimentais. Ao longo do texto ela descreve os erros e acertos, e mais importante, contextualiza as lições aprendidas ao processo de construção da marca no ambiente empresarial.

Ao fim de cada capítulo é apresentado um Box chamado “Social Media Lessons” onde ela explica cada uma dessas lições e qual seria a melhor maneira de aplicá-las no dia-a-dia gerencial. Por exemplo, em uma ocasião ela escreve sobre a força que pequenas tarefas têm ao engajar o público junto ao seu conteúdo. Usuários da Internet são constantemente bombardeados com todo tipo de pedidos (assista ao vídeo, comente no blog...), o que pode sobrecarregá-lo e acaba levando-o a ignorar todas essas chamadas. Por isso, o segredo é começar com algo simples, como uma única pergunta ao invés de um questionário. Quanto mais fácil e rápido for a tarefa solicitada, maiores serão as chances das pessoas se envolverem.

De um modo geral gostei muito do livro. Alguns trechos mais eufóricos e parciais podem ser irrelevantes e desnecessários, mas na minha opinião não empobrecem o conteúdo de nenhuma forma. Os boxes sobre as lições aprendidas são um verdadeiro tesouro para o estrategista digital, todas muito relevantes e atuais, mesmo a campanha tendo ocorrido há dois anos atrás. Leitura altamente recomendada.

I Hate Presentations; James Coplin


Quando li o trabalho de Garr Reynolds em seu best-seller mundial Presentation Zen, fiquei admirado com a qualidade dos conselhos e dicas que ele passa sobre como desenvolver melhores apresentações, principalmente na questão do design dos slides.

James Coplin volta o processo um passo atrás e escreve seu livro sobre como preparar apresentações no sentido de elaboração do conteúdo e principalmente, como apresentar esse conteúdo. Para isso ele nos introduz a uma série de ferramentas simples e acessíveis para serem aplicadas dentro do sistema criado por ele, chamado GOER.

GOER significa GOAL, OUTLINE, ELABORATE e REFINE, que representam as quatro etapas da preparação, cada responsável por um estágio. Ao longo dos capítulos o autor nos apresenta a uma série de ferramentas muito úteis que ajudam na organização do trabalho e estimulam a criação além de refinar o resultado final.

Algumas dessas ferramentas são o “Five Why’s”, “Spider Diagram”, “Meaning Generator” e “Recall”, todas elas muito interessantes e que podem ser aplicadas a outras situações da vida também. Além dessas o autor nos apresenta a outros conceitos como o “A Time”, teoria que define em qual ou quais períodos do dia somos mais ou menos produtivos, e também aconselha (na verdade, considera fundamental e peca chave para a elaboração de uma boa apresentação) que o apresentador contate um membro da audiência e pergunte o que eles querem e esperam ouvir.

Citando o conceito “The Curse of Knowledge” do livro ‘Made to stick’, o autor argumenta que existe muitas vezes uma distância enorme entre o que queremos falar e o que eles querem ouvir. Uma das coisas que mais me surpreendeu e chamou atenção foi o que o autor chama de “School Essay Tecnique”, ou seja, o hábito que muitos de nós tem de redigir todo o conteúdo da nossa apresentação e depois recitá-la para a audiência. Coplin demonstra através de exemplos o quanto essa técnica é falha, pois nos leva a falar da maneira não natural, e também a estruturar o conteúdo de uma forma falha e incompatível com a natureza das apresentações.

Encontrei esse livro na biblioteca de Aylesbury, mas já está na minha lista de compras do Amazon. Na minha opinião é uma obra indispensável para qualquer pessoa ligada ao mundo dos negócios, seja ela um comunicador ou não. Mais uma vez, lamento não ter sido apresentado a este livro anos atrás quando ainda estava na Universidade.